Já não teve Copa!

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No dia 16 de junho, durante a entrega da Medalha de Mérito Pedro Ernesto  –maior honraria da Câmara Municipal do Rio de Janeiro– ao Comitê Rio Copa e Olimpíadas, escutei de uma antiga e respeitada liderança política da esquerda brasileira de que “não teve Copa”. A Copa do Mundo de Futebol como nós brasileiros entendemos e historicamente vivemos e sentimos, realmente não teve. Teve sim a Copa da FIFA, a Copa das empreiteiras e dos grandes poderes econômicos e políticos, a Copa de uma pequena elite nacional e talvez de alguns estrangeiros. Para a maioria dos brasileiros não teve Copa. Não teve animação, entusiasmo, aquela conhecida alegria do povo brasileiro. Acho que todos nós imaginávamos as ruas lotadas, pintadas, coloridas, cheias de vida e de confraternização, na Copa do país do futebol.

Entretanto, tem muita Copa na Rua. Movimentos sociais diversos, sindicatos e outros coletivos em luta tem se organizado de forma solidaria para denunciar os problemas que se justificam com a Copa. A programação comemorativa do evento internacional vem acompanhada de uma programação reivindicativa.

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O Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas –junto com outros movimentos sociais, especialmente comunidades ameaçadas de remoções e trabalhadores em luta– vem organizando o ato “Nossa Copa é na Rua. Por uma cidade de direitos. Todo o apoio às trabalhadores e os trabalhadores em lua!”. O ato já está na sua terceira edição. O primeiro foi realizado no dia 12 de junho, inauguração do evento e primeiro jogo do Brasil. O segundo foi realizado dia 28 de junho, seguido do terceiro no dia 04 de julho, todos em dias de jogo da seleção brasileira. No total são quatro atos programados, com destaque ao último deles, a ser realizado no dia 13 desse mês, dia da final no Maracanã.

As manifestações adotam um caráter criativo e divertido, “carnavalizando” a protesta. A ideia é vestir a fantasia, botar a purpurina e vir pra rua! O ato é guiado pelo bloco do Nada [1], coletivo que acompanha diversos atos e manifestações na cidade, mesmo antes de junho de 2013, carregando em estandarte a mensagem do alemão Bertolt Brecht: “Nada deve parecer impossível de mudar”. O grupo adapta letras de funks antigos às atuais demandas dos movimentos e a recentes fatos político-sociais.

Geralmente as manifestações anti-FIFA ou anti-Copa contam com a articulação de diferentes movimentos sociais. No dia 28 de junho foi ainda mais especial, com uma importante participação do movimento LGBT, já que a data é marcante para o movimento. “No contexto da Copa de Mundo, milhares de pessoas LGBT da população mais pobre, além de sofrerem com as precarizações na saúde, educação, moradia e transporte, também são secundarizadxs em investimento, na priorização do governo em bancar uma Copa para os ricos, deixando de lado as reais políticas públicas de combate as opressões” (Comitê Rio).

O ato também contou com a importante participação dos moradores do Horto, outra comunidade ameaçada de remoção devido à especulação imobiliária em um dos bairros mais caros da cidade. Os moradores seguiam a marcha carregando uma cruz negra, representando as remoções e o genocídio à população negra nas favelas cariocas.

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De forma irônica e bem animada, o “Copa na Rua” apresentava e cantava as suas principais demandas, quais sejam: a democratização da mídia; o fim da militarização nas cidades; o combate à repressão e criminalização da protesta; saúde, educação e transporte estatais, públicos, gratuitos e de qualidade; apoio às greves e à luta; direito ao trabalho de ambulantes e de camelôs; e o fim das remoções: pela reforma urbana e agrária.

Também durante as manifestações foram lembradas as chacinas nas favelas e territórios pobres da cidade, frutos da repressão e truculência policias, crimes ainda impunes. Basta de genocídio à população negra e favelada!  E sob o estandarte de Bertolt Brecht, a resistência na rua vai continuar, afinal, “Nada deve parecer natural. Nada deve parecer impossível de mudar”. Não sei se efetivamente temos a Copa em seu sentido pretendido, de confraternização, união e solidariedade entre os povos. Uma Copa sem racismo. Mas tenho certeza que sim, temos Copa na Rua!

Por Lina Magalhães, desde Rio de Janeiro, Brasil.

[1] Coletivo Nada Deve parecer Impossível de Mudar. Ver em: http://noo.com.br/o-bloco-do-nada/

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